Começo com a seguinte pergunta: por que há um espaço tão grande entre o que eu faço e o que eu gosto de fazer? Essa pergunta vai além de trabalho. Falo de vida, do mundo. Creio que muitos de vocês já leram, ouviram, assistiram alguma coisa sobre pessoas que resolveram mudar toda a sua vida. Mudar tudo e viver de uma forma diferente. Pois bem, sendo sincero, tenho em mim um misto de admiração e repúdio por essas pessoas. Bloqueiem os pensamentos indignados ou favoráveis. Vou explicar.
Tem um comentário num vídeo do Youtube que expressa muito bem porque admiro as pessoas que resolvem mudar seus mundos:
Não fazemos nada real e que mude nossa história, tenho vergonha de ser de uma geração que tudo vê, tudo sabe, mas que apenas reage postando vídeos de nossa frustração no Facebook!
As pessoas que mudam a sua vida de forma drástica fazem algo real. Acho que pra ser real tem que mudar seu mundo totalmente, mas aí vem o repúdio. Existe um texto de Contardo Calligaris (clique aqui pra saber quem é esse cara) intitulado “A coragem do amor que dura”. O texto fala sobre o fato de a nossa cultura idealizar a ruptura, a aventura e a glorificada – pelo cinema e literatura – coragem de chutar o balde. No texto, Calligaris trata do amor, mas tomemos como exemplo: ele defende que o amor verdadeiro é o capaz de permanecer, nem sempre intacto, porém permanece sendo amor diante das diversas dificuldades que possa encontrar, não apenas pela duração que tem, mas que o amor leva tempo para ser construído. A construção se dá em deslocar o balde para que a goteira não molhe o chão, ao invés de chutar o balde de uma vez.
Nesse sentido do que seja “real” e da ideia do valor presente no texto de Calligaris, os que continuam a viver a vida de trabalho, frustrações e indignações, não podem fazer algo real? Digo que sim. Eu passei 4 anos numa faculdade que me forneceu base para exercer uma profissão e não tenho como usar isso para mudar o mundo? Preciso desistir de tudo pra ver alguma mudança e ser feliz? E a resposta que me vem é: não. Porque preciso mudar minha mente, meu modo de pensar e viver, não necessariamente desistir de tudo. Mas que fique claro: as pessoas são únicas e, na mesma intensidade, os caminhos também.

Encare a verdade: é um balde imaginário.
Então chegamos a uma definição de mundo – criada por ninguém menos que eu, o que não tem valor nenhum. A psicologia diz que nossa identidade é mutável e que temos várias “facetas identitárias”. O publicitário, o filho da dona Tetê – que não gosta de ser chamada assim, por isso não contem nada a ela – e do seu Gonçalo, o irmão, o amigo, o colega, etc. O meu mundo não é apenas uma dessas facetas, uma delas pode ter um peso maior. Entretanto, meu mundo também não é a publicidade, é bem mais extenso e isso me leva a pensar que é algo em constante mudança com uma definição íntima, algo que eu posso controlar e fazer o melhor ou o pior dos mundos. Assim, se não gosto da minha vida, a culpa é minha.
Acho que podemos mudar o mundo e essa é a grande mudança: acreditar e fazer.
Entendo que há muitos outros fatores que forçam o “chutar o balde”, resumindo escolhas forçadas, espontâneas ou cômodas que me conduzem a um caminho que posso não gostar, mas que sou responsável por ter chegado lá e tenho a possibilidade de mudar. Enfim, repudio porque muitas vezes não consigo enxergar os resultados de se mudar tudo, os resultados para o mundo. Não digo de todos, mas há casos que as ideias são boas, porém a execução é ruim e os resultados são miseráveis. Acho que podemos mudar o mundo e essa é a grande mudança, acreditar e fazer.
Precisamos ter um pouco dos dois, a coragem para mudar e fazer aqui nesse “palco de loucos”, que podemos chamar de mundo real, o que falamos no Facebook. E também a coragem para permanecer lutando pelo que acreditamos, mesmo estando envolto por muito trabalho. Algumas indignações e frustrações, encontrar a sua maneira de mudar o mundo, principalmente o seu e só então o mundo dos outros. Isso faz toda diferença, ainda mais quando se é feliz com o que faz.
Li um texto há um tempo em que o foco era entre ser feliz ou ter uma vida interessante. Segundo o autor, quem é feliz não busca um mundo de opções, que seria uma vida interessante. Na minha humilde opinião felicidade é única, sem molde, sem métodos ou indicações. Ser feliz é uma arte desenvolvida de formas e gostos diferentes. Mas o principal é que a felicidade não está presa a nada. No final ser feliz é uma vida interessante ou uma vida interessante é ser feliz.
Finalizando, com um tom bem poético, de Alain Badiou:
Um amor verdadeiro é o que triunfa duravelmente, às vezes duramente, dos obstáculos que o espaço, o mundo e o tempo lhe propõem.
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