03.01.13

ANAIS DA TECNOLOGIA \ Navegar é preciso, viver não é preciso

Sabe o navegador que você usou para abrir essa página? Esse que você usa diariamente, em casa, no trabalho, na faculdade, no churrasco, na praia, no topo do Monte Everest (caso lá esteja algum dia para fazer check-in)? Então. Não sei qual você tem aí, ele pode variar, pode ser o Internet Explorer, Firefox, Chrome, Safari… Para alguns eles até (não acredito que vou escrever isso) ajudam a definir a personalidade dos seus usuários – algo fabricado e explorado, sem dúvidas. Mas você só pode escolher qual se adapta melhor ao seu estilo de vida devido ao que aconteceu há mais ou menos 20 anos, bem no coração do Vale do Silício. Um negócio envolto em rivalidades, poder, monopólios, trapaças e um até pouquinho de sangue. Tudo arquitetado por um bando de engenheiros ambiciosos e extremamente talentosos.

Não preciso lembrar do tamanho da Internet para destacar a relevância de quem a criou. Por isso o documentário ‘A Internet: guerra dos navegadores’ tem um valor histórico riquíssimo. Conta com detalhes o que aconteceu quando a elite tecnológica percebeu que a Internet era um caminho sem volta, e que consequentemente influenciaria a forma como as pessoas trabalham, se comunicam, fazem compras e se apaixonam, inclusive.

Antes do primeiro navegador, a Internet se limitava a uma rede de pesquisas obscuras. Não tinha remotamente nada que lembrasse um portal de notícias. Era preciso ser um geek, acadêmico de ciência da computação ou cientista para ficar empolgado com aquilo. Então veio a revolução, tão rápida quanto silenciosa. A Internet – pelo menos da forma como a conhecemos hoje, ou seja, como uma hipermídia global e sem fronteiras culturais – só nasceu, de fato, depois que alguém sugeriu um navegador para ela. E foi justamente um geek que nos tirou das correntes.

Marc Andreessen, apadrinhado por Jim Clark, criou o primeiro navio para que as pessoas pudessem navegar pelos recém criados mares cibernéticos. A Netscape Communications Corporation era uma empresa jovem e ambiciosa, com todos os exigentes requisitos para se tornar uma nova gigante da alta tecnologia. Mas o mundo tinha um xerife. Era a poderosa Microsoft – dona do software mais rentável da história dos softwares mais rentáveis. Bill Gates rapidamente entendeu que não estava lidando apenas com mais um de seus inimigos. Ele estava diante do acontecimento mais importante desde a criação do PC. Uma tecnologia tão importante quanto a televisão ou a própria imprensa. Gates queria a Internet, e a Netscape também. Uma guerra seria inevitável.

Em uma guerra não existem vencedores. E isso é uma regra.

A Microsoft era um império vulnerável, pelo menos na visão vislumbrada da Netscape ao avistar o cume. Eles estavam no topo com o seu navegador, largaram na frente em um negócio onde largar na frente é tudo o que importa. Mas eles quebraram uma das mais importantes regras do Vale do Silício: nunca fazer sombra no gigante. Segundo o documentário exibido pelo Discovery Channel, o plano empresarial da Netscape presumia que a Microsoft obedeceria a lei, ou, pelo menos, que alguém a obrigasse a obedecer. Mas Gates tinha coisas mais importantes com que se preocupar. Perder não fazia parte do jogo.

Éramos como um animal espantado com a Microsoft à nossa frente.

A partir daí o mundo presenciou toda uma cadeia de acontecimentos que nos levou a uma revolução social, cultural, midiática e, como não poderia deixar de ser, comportamental. Tudo sem precedentes. Eu, membro da velha guarda quando se fala em Rede Mundial de Computadores, lembro daqueles 4 anos que definiram o rumo das coisas. Lembro da ameaça de monopólio, de Bill Gates gaguejando nos tribunais e do apocalíptico naufrágio do Netscape. Aquilo não foi uma concorrência, também não foi uma guerra. Foi apenas mais uma carnificina. Assista.

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