Comecei a correr não tem muito tempo, foi no verão de 2012. Não precisei de um motivo para começar, apenas fiz como Forrest Gump: num belo dia estava sentado na varanda de casa e resolvi sair correndo pelo bairro. É difícil explicar as razões que levam alguém a correr, acho que é a metáfora da vida ou algum instinto herdado dos nossos ancestrais. Como não precisamos mais caçar ou fugir de predadores, nos resta praticar exercícios físicos.
Apesar de querer sempre melhorar os tempos, correr não significa ir do ponto A ao ponto B o mais rápido possível. É uma espécie de terapia antidepressiva, um momento de solidão onde você aperfeiçoa uma forma de autocontrole. Não é agradável correr, os pés doem, as panturrilhas queimam, a boca seca, você sente calor e as vezes fica com bolhas. Uma desgraça completa. Há quem diga que o exercício físico é contra a natureza humana, acho que não concordo justamente pelo que escrevi ali atrás. O que compensa todo esse sofrimento é o final, quando você sente a descarga de endorfina agindo pelo corpo, dando-lhe uma incrível sensação de bem-estar, de estar vivo e fazendo alguma coisa boa com a sua vida. Logo você esquece de tudo e só pensa na próxima corrida.
Não é agradável correr, os pés doem, as panturrilhas queimam, a boca seca, você sente calor e as vezes fica com bolhas. Uma desgraça completa.
Ontem participei da 29ª edição da Corrida de Reis, a maior corrida de rua da região onde eu moro. Pelas contas dos organizadores são aproximadamente 10 mil bípedes exercitando o tal autocontrole. Mas suspeito que alguns vão apenas para reivindicar alguma causa. Vi faixas protestando contra o preço da gasolina, o aumento dos impostos, os buracos nas ruas da cidade e as barrinhas de cereais em voos domésticos. Alguns preferem lembrar de ondem vieram: Rio Branco, Matupá, João Pessoa, Comodoro, Tangamandápio, Terra do Nunca, Gothan City… E claro que não pode faltar o ‘Filma nóis Galvão’. Suspeito que o Galvão não filmou, nem que tenha narrado ou mesmo que tenha tomado conhecimento de tal evento. Deveriam substituir por ‘Robson Caetano, se hidratar é importante antes, durante e depois dos treinos?’ Também tem a turma fantasiada, lembro do homem-aranha e o mosquito da dengue passando por mim na subida do relógio da Av. Mato Grosso. Depois veio um sujeito numa fantasia de tuiuiú, me deu uma palavra de incentivo e disparou na minha frente. Aquilo acabou com meu psicológico. Tudo bem perder para os quenianos, mas, para um tuiuiú?!
Essa foi a minha 8ª corrida desde aquele verão. Sem se importar muito com o tempo dos outros, pretendia passar sebo nas canelas e completar os 10 mil metros em menos de 1 hora. Partindo do princípio que na última corrida de 10 km eu terminei com 1h02min, era um bom objetivo para um amador de 1,78m, 83 quilos e 31 anos. Mas, fracassei. Cruzei a linha de chegada com 1h08min. Culpei o calor, lembro ter passado por um termômetro entre os quilômetros 2 e 3 que marcava 32º. Devia estar com defeito, a sensação térmica era de 89º, agravado pelo fato de eu estar usando duas camisetas – uma estupidez sem tamanho, devo frisar. De qualquer forma, foi um tempo bem melhor que as 1h19min que fiz na 28ª edição da corrida. Se bem que naquela ocasião eu parei no meio do caminho para ir ao toilette. Correr com vontade de saciar as necessidades fisiológicas é de um desconforto imensurável.
Voltando ao que ia dizendo no começo do texto, tenho comigo que ainda correrei uma maratona. Quero vencer os 42.195 m para usar como referência para qualquer desafio que julgar impossível no futuro. Usarei como um mantra: eu já corri uma maratona, posso fazer isso. Li na revista Runners algo que me encheu de motivação, era alguma coisa como “Ninguém corre 42 km sem estar preparado, todo mundo ali sabe o que está fazendo, então existe muito mais respeito.” Não entendi direito a parte do respeito, mas gosto da ideia de estar cercado por pessoas que saíram de casa para repetir o feito de Filípides.