08.01.13

Doar-se \ Eu não sou um doador

Lembro-me bem da primeira vez que estive em um lar de idosos. Foi com a turma da escola, em meados de 2002. Fazia parte da aula de ensino religioso (ainda ensinam isso?) e eu não estava lá porque queria estar lá. Era estranho, o lugar não cheirava bem, era mal cuidado e havia muitos velhinhos falando coisas sem sentido pra mim. Talvez eu não estivesse preparado para aquele encontro, sentia que eu não tinha muito a oferecer a eles. Não sei. Mas não esmoreci, encarei a tarefa do professor e fui até o fim. Conversei um pouco mais de 5 minutos com 3 ou 4 senhores e ao fim daquela manhã tinha a certeza de que eles precisavam mesmo de atenção. Não precisava falar sobre física quântica e a fórmula para a paz no Oriente Médio. Era só conversar.

Talvez eu não tenha o dom de ser bom simplesmente por ser bom.

Eu não era bom com pequenas conversas, era ainda mais tímido e um tanto inseguro. Nunca mais voltei, já que não fui obrigado. Não fiz alarde das minhas descobertas, até porque não teria do que me orgulhar. Mas foi o meu primeiro contato com a filantropia e não gostei, confesso a vocês. Talvez eu não tenha o dom de ser bom simplesmente por ser bom.

Fazer o bem é mais difícil do que parece. Não basta compartilhar uma causa no Facebook e sair com a consciência tranquila. É preciso mais. É preciso doar atenção, carinho, vontade, tempo, dinheiro, dedicação e alma de verdade àquilo. Acho muito difícil desviar o caminho diário e olhar para as necessidades alheias. Eu gostaria de ser assim. Mas não sou.

Na verdade, admiro muito quem tem esse dom de fazer boas ações. Digo dom, pois acredito que a boa ação verdadeira, aquela sem intenção de receber algo em troca, é coisa rara. Muito rara.

Olha pessoal, ajudei um mendigo e postei no Facebook.

Fazer publicidade do que você faz de bom por aí não te torna melhor ou pior. É sempre bem claro quando uma atitude pede uma recompensa e quando ela é simplesmente inspiradora. Por exemplo, é impossível não se emocionar com histórias dos voluntários do projeto Make a Wish, que realizam pequenos desejos de crianças com graves doenças e com esperanças perto do nível crítico. Foi cientificamente comprovado que essas pequenas satisfações e alegrias melhoravam o estado de saúde dos pacientes. Me emociono também toda vez que vejo um vídeo do Projeto Desejo Azul, do Grêmio. A ideia é a mesma do Make a Wish, porém os desejos realizados dizem respeito à paixão dos pequenos pelo tricolor de Porto Alegre. Ídolos do clube e voluntários levam pequenos presentes para aquelas crianças e transformam aqueles breves momentos em estímulos importantes para, talvez (vá saber), uma cura.

O amigo Fred Fagundes comentou lindamente sobre o projeto e contou o caso do menino Otávio, veja aqui.

Eu podia citar ainda o Doutor Patch Adams, mas seria muito clichê da minha parte.

Falando em Porto Alegre, essa semana estou indo para a minha terra natal por um motivo que vai muito além da minha compreensão. Minha família está lá desde o início de 2013 com a missão de acompanhar a minha mãe quando ela receberá um rim de presente do irmão dela. Veja bem: um rim! Não é um real, um panetone ou um Iphone 5, mas um rim. Um órgão todo dele, criado a muito costelão assado e Polar gelada. E a partir de quinta-feira o danado vai ser dela.

Eu, que mal consegui doar uma manhã da minha vida aos velhinhos do abrigo, estou indo presenciar um gesto de um tamanho que nem consigo mensurar. Aliás, não me recordo de ter dado sequer um presente decente à minha irmã nessa minha vida.

Ainda estou anestesiado e ansioso com tudo o que virá. Vou carregando na mala muita esperança, 90% focada na recuperação da mãe e os outros 10% pensando em aprender com o tio sobre essa história de doar-se.

14 Responses to Eu não sou um doador


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