Imperativo no português: formas afirmativa/negativa, posição dos pronomes, erros comuns e dicas de cortesia

Lembro-me claramente da vez em que, em uma aula para estrangeiros, disse a um aluno brasileiro “Fala mais devagar” — e ele ficou confuso. Para ele, aquilo soou rude; eu queria apenas clareza. Na minha jornada como jornalista e professora de língua, aprendi que o imperativo não é só uma forma verbal: é ferramenta social. A mesma construção que orienta, pode ofender — tudo depende da forma, do contexto e da entonação.

Neste artigo você vai aprender, de forma prática e direta, o que é o imperativo, como se forma no português, quando usar o afirmativo e o negativo, erros comuns de quem aprende, variações de registro (formal vs. informal) e dicas para soar educado ao dar ordens ou instruções. Também mostro exemplos reais e explico os “porquês” por trás das regras.

O que é “imperativo”?

O termo “imperativo” tem dois usos principais:

  • Gramatical: o modo imperativo é a forma verbal usada para dar ordens, instruções, pedidos ou conselhos (ex.: “Abra a janela”).
  • Conceitual/filosófico: “imperativo” também aparece em expressões como “imperativo categórico” (Kant) — esse não é o foco aqui.

Aqui vamos focar no imperativo gramatical, especialmente no português do Brasil (com notas sobre variações regionais).

Como funciona o imperativo em português

Formação básica

O imperativo afirmativo e o negativo têm formações diferentes:

  • Imperativo afirmativo:
    • Tu: forma do presente do indicativo sem o -s (ex.: tu falas → fala).
    • Você/Ele/Ela, Nós, Vocês/Eles/Elas: formam-se com o presente do subjuntivo (ex.: você fale, nós falemos, vocês falem).
  • Imperativo negativo:
    • Todas as pessoas usam o presente do subjuntivo precedido de “não” (ex.: não fales, não fale, não falem).

Resumo prático com o verbo “falar”:

  • Afirmativo: tu fala; você fale; nós falemos; vocês falem.
  • Negativo: tu não fales; você não fale; nós não falemos; vocês não falem.

Irregulares que você precisa guardar

Alguns verbos são frequentemente usados no cotidiano e têm formas irregulares no imperativo afirmativo. Decore-os com exemplos:

  • Ser: sê (tu), seja (você), sejamos, sejam. (Negativo: não sejas / não seja…)
  • Ir: vai (tu), vá (você), vamos/ir? — atenção: afirmativo nós = vamos (uso corrente para “vamos embora”), forma de subjuntivo seria “vamos” também; negativo: não vás (tu), não vá (você), não vamos (nós).
  • Ter: tem (tu), tenha (você), tenhamos, tenham. (Negativo: não tenhas…)
  • Dar: dá (tu), dê (você), demos/dêem; Negativo: não dês, não dê…

Observação: o uso de “vós” é raro no português contemporâneo; você dificilmente precisará dele em conversas normais.

Posição dos pronomes (clíticos) no imperativo

Uma das maiores fontes de dúvida é onde colocar os pronomes oblíquos (me, te, se, o, a, nos, lhes) no imperativo.

  • Imperativo afirmativo: normalmente ocorre ênclise (o pronome depois do verbo): “Diz-me”, “Faça-o”.
  • Imperativo negativo: proclise (pronome antes do verbo): “Não me digas”, “Não o faça”.
  • No português do Brasil coloquial, é comum ouvir “me diz”, “me fala” (proclise) inclusive no afirmativo — aceitável na fala, mas em textos formais prefira a ênclise.

Quando usar o imperativo — contexto e registro

O imperativo pode ser direto e autoritário ou cortês e afable. Tudo depende do registro e das estratégias linguísticas usadas:

  • Comandos diretos (autoridade): “Pare!”
  • Pedidos polidos: “Por favor, fecha a janela?” ou “Poderia fechar a janela?” (uso de condicional para suavizar)
  • Instruções técnicas/receitas: imperativo direto é comum e claro — “Misture a farinha”.
  • Sinalizações e avisos: muitas vezes o infinitivo é usado de forma impessoal — “Proibido fumar”, “Não estacionar”.

Você já se perguntou por que “Fecha a janela” soa diferente de “Por favor, fecha a janela”? A palavra “por favor” e a entonação suavizam a força do imperativo, transformando uma ordem em um pedido.

Imperativo em outras línguas — comparação rápida

O imperativo existe em muitas línguas. Em inglês, por exemplo, a forma base do verbo é usada: “Go!”, “Please sit down”, e o negativo é “Don’t go”. Isso ajuda a entender o conceito universal: o imperativo expressa querer que alguém faça (ou não faça) algo.

Erros comuns e como evitá-los

  • Confundir afirmativo e negativo: lembre que o negativo usa subjuntivo (não fale, não comas).
  • Pronome na posição errada: em textos formais, evite “me diz” — prefira “diz‑me”.
  • Tom inadequado: para pedidos, prefira “por favor”, condicional (“poderia”) ou gentilezas para não soar imperioso.
  • Uso do infinitivo em contextos pessoais: cuidado com “Não fumar” em documentos — é impessoal; para instruções pessoais, use imperativo (“Não fume aqui”).

Dicas práticas para aprender e usar o imperativo

  • Pratique com frases do dia a dia: direcione ordens simples a si mesmo ou a amigos (“Fecha a porta”, “Me traz água”).
  • Preste atenção ao registro: em e-mails profissionais, prefira formulários condicionais (“poderia enviar…”).
  • Leia receitas e manuais: o imperativo aparece muito nesses textos — observe como é usado para instruções claras.
  • Escute falantes nativos e imite a entonação: o imperativo não é só verbo; é também voz e contexto.

Exemplos práticos e conjugação rápida

Verbo “comer”:

  • Afirmativo: tu come; você coma; nós comamos; vocês comam.
  • Negativo: tu não comas; você não coma; nós não comamos; vocês não comam.

Verbo “abrir”:

  • Afirmativo: tu abre; você abra; nós abramos; vocês abram.
  • Negativo: tu não abras; você não abra; nós não abramos; vocês não abram.

Quando o imperativo falha: ambiguidade e mal-entendidos

Como contei no começo: a mesma frase pode orientar ou ofender. Isso acontece quando se ignora o contexto social. Para evitar conflitos:

  • Adicione “por favor”.
  • Use perguntas indiretas: “Você poderia…?”
  • Prefira o condicional para pedidos sensíveis.

Conclusão rápida

O imperativo é essencial para orientar, instruir e pedir. Saber formar o imperativo, reconhecer irregulares e adaptar o registro pode transformar uma ordem rude em um pedido educado e eficaz.

FAQ — dúvidas comuns

  • Posso usar “por favor” com o imperativo? Sim — é a forma mais simples de deixá‑lo polido.
  • Qual a diferença entre “não fumes” e “não fume”? “Não fumes” é forma para tu (Portugal), “não fume” pode ser você ou forma impessoal; observe a pessoa a quem se dirige.
  • Quando usar infinitivo em instruções? Em avisos e sinalizações impessoais (ex.: “Proibido fumar”).
  • E se eu tiver dúvida entre indicativo e subjuntivo? No negativo, use sempre o subjuntivo.

Quando dominar o imperativo, você não apenas conjugará verbos — você controlará o tom das suas interações. Experimente aplicar uma das dicas hoje: transforme uma ordem em um pedido com “por favor” e note a diferença na reação.

E você, qual foi sua maior dificuldade com imperativo? Compartilhe sua experiência nos comentários abaixo!

Fonte consultada: Priberam — Dicionário e Gramática (https://dicionario.priberam.org/imperativo) e Ciberdúvidas da Língua Portuguesa (https://ciberduvidas.iscte-iul.pt).