Lembro-me claramente da vez em que, no meu primeiro emprego como revisora, devolvi um texto inteiro marcado por “vamos estar entrando em contacto” e “iremos estar avaliando” — frases que deixavam o texto burocrático, lento e pouco direto. Foi ali que aprendi, na prática, como o uso do gerúndio pode transformar (ou emperrar) uma mensagem. Na minha jornada, experimentei aceitar e corrigir esse “gerundismo” em e-mails empresariais, posts de redes sociais e comunicados oficiais — e vi resultados: clareza, objetividade e mais confiança do leitor.
Neste artigo você vai aprender, de forma clara e prática: o que é o gerúndio, quando usá-lo corretamente, erros comuns a evitar, alternativas mais elegantes e dicas para escrever e falar melhor em português.
O que é gerúndio?
Gerúndio é a forma nominal do verbo que, em português, termina em -ndo (amar → amando; partir → partindo; ser → sendo). Funciona como um modo de indicar ação em andamento ou circunstâncias da ação principal.
Aspectos essenciais
- Formação: geralmente verbo + -ndo (fazendo, estudando, tendo).
- Função: indica continuidade, simultaneidade, causa, condição ou modo, dependendo do contexto.
- Não é o particípio nem o infinitivo — cada forma tem papel diferente na frase.
Usos corretos do gerúndio
O gerúndio tem usos legítimos e importantes. Veja alguns:
1. Aspecto progressivo (ação em andamento)
Expressa que algo está acontecendo no momento ou em um período contínuo.
- Ex.: “Ela está estudando para o concurso.”
- Quando é adequado: em descrições de ações em progresso ou em locuções verbais contínuas.
2. Ação simultânea
Indica duas ações que ocorrem ao mesmo tempo.
- Ex.: “Caminhava ouvindo música.”
3. Causa, condição ou modo
O gerúndio também pode explicar o porquê, a condição ou o modo da ação principal.
- Causa: “Sendo especialista no assunto, ela explicou com calma.”
- Modo: “Entrou sorrindo.”
- Condição (menos comum): “Pagando a dívida, ficará em paz.”
Erros comuns e armadilhas do “gerundismo”
Nem todo gerúndio é necessário — e alguns usos são criticados por tornar a comunicação vaga ou prolixa.
1. Gerúndio pleonástico ou desnecessário
Quando o gerúndio apenas estende a frase sem acrescentar informação clara.
- Problema: “Estamos entrando em contato para informar…” (muito usado em atendimento automático)
- Alternativa: “Entramos em contato para informar…” ou “Informamos que…”
2. Futuro no gerúndio: “vou estar fazendo”
Construções como “vou estar enviando” ou “iremos estar avaliando” ficam enfáticas ou redundantes. Parecem tentar suavizar uma promessa, mas deixam a mensagem menos objetiva.
- Prefira: “Enviarei”, “Vamos enviar”, “Avaliamos” (conforme o tempo e o tom desejados).
3. Confusão com particípio e infinitivo
Ex.: “Tendo feito o relatório, … ” (cuidado: às vezes o particípio ou o infinitivo é a forma correta)
Como decidir se devo usar gerúndio?
Antes de escrever, faça-se perguntas rápidas:
- O gerúndio descreve uma ação em andamento ou simultânea relevante? Use-o.
- Ele torna a frase vaga ou mais longa sem necessidade? Evite.
- Há uma alternativa mais direta (presente, pretérito, futuro simples)? Prefira a clareza.
Dicas práticas para escrever e falar melhor com o gerúndio
- Use o gerúndio para descrever processos ou ações simultâneas: “Ele ligou, pedindo ajuda.”
- Evite “vou estar” quando quiser apenas indicar o futuro: prefira “vou” ou o futuro do presente.
- Revise mensagens padrão de atendimento: substitua gerúndios desnecessários por frases mais diretas.
- Leia em voz alta: se a frase ficar arrastada com o gerúndio, corte-a.
- Estude exemplos de gramáticas consagradas (Cunha & Cintra; Bechara) para entender sutilezas de uso.
Exemplos comparativos (antes / depois)
- Antes: “Estamos analisando seu caso e iremos estar retornando em breve.”
Depois: “Analisaremos seu caso e retornaremos em breve.” - Antes: “Ele foi ao mercado, comprando pão.”
Depois: “Ele foi ao mercado e comprou pão.” (quando não há necessidade de simultaneidade explícita) - Antes: “Tendo recebido as instruções, ela iniciou o trabalho.”
Depois: “Após receber as instruções, ela iniciou o trabalho.”
Perguntas frequentes (FAQ)
O gerúndio é sempre obrigatório para indicar continuidade?
Não. Em muitos casos, a locução verbal com “estar + gerúndio” é útil, mas o presente contínuo pode ser substituído por outras formas verbais sem perda de sentido.
Quando o gerúndio torna o texto pouco profissional?
Quando é usado para adiar ou suavizar ações (o famoso “vou estar verificando”), ou quando empurra o leitor para longe do sujeito e do verbo principal, arrancando objetividade.
Há diferença entre português do Brasil e de Portugal no uso do gerúndio?
Sim. Em geral, o português do Brasil usa mais construções com gerúndio para expressar progressividade (“estou fazendo”), enquanto em Portugal é comum usar outras formas perifrásticas. Mas as regras gramaticais básicas são semelhantes.
O que diz a gramática normativa?
Gramáticos consagrados explicam os usos e limites do gerúndio, alertando para ambiguidades e para o uso excessivo que empobrece a clareza. Consultar uma boa gramática ajuda a entender contextos formais versus coloquiais.
Conclusão
O gerúndio é uma ferramenta poderosa para indicar continuidade, simultaneidade e circunstâncias da ação. Usado com equilíbrio, melhora a expressividade; exagerado, enreda e desvia a clareza. A regra prática que levo da minha experiência: prefira a forma que comunica mais diretamente o que você quer dizer.
FAQ rápido: O que é gerúndio, quando usá-lo, erros comuns e alternativas práticas — tudo em poucas palavras: use quando for essencial à ideia de continuidade ou simultaneidade; evite quando apenas alonga sem acrescentar informação.
Finalize sempre revisando: se o gerúndio fizer você “rodar” a frase em vez de clareá-la, mude.
E você, qual foi sua maior dificuldade com o gerúndio? Compartilhe sua experiência nos comentários abaixo!
Referências: Consultei recursos de referência sobre língua portuguesa, como o dicionário e as explicações do Priberam (https://dicionario.priberam.org/gerúndio) e dúvidas e artigos no Ciberdúvidas da Língua Portuguesa (https://ciberduvidas.pt). Para leituras jornalísticas e exemplos de uso no português do dia a dia, veja também portais como G1 (https://g1.globo.com).