4 Verbos » Fazer http://4verbos.com.br Assista, deguste, pense, faça. Mon, 10 Feb 2014 17:06:59 +0000 pt-BR hourly 1 http://wordpress.org/?v=3.4.1 A vida que eu não terminei http://4verbos.com.br/a-vida-que-eu-nao-terminei/ http://4verbos.com.br/a-vida-que-eu-nao-terminei/#comments Fri, 02 Aug 2013 01:02:52 +0000 lisandro http://4verbos.com.br/?p=1551 Hoje sou muita coisa que eu não fui. E um pouco de outras coisas que ainda nem comecei.

Eu poderia ser um jogador de futebol rico. É bastante otimismo, mas nunca saberei.

Por que eu larguei a escolinha de futebol mesmo? Tenho precisado daquelas aulas que me faltaram.

Certo dia, me matriculei em uma academia perto de casa pra agradar as menininhas exigentes da escola no ensino médio. É, se você um dia ler esse texto saiba que eu queria te impressionar e que hoje te acho muito, mas muito chata. Um dia, fiquei com preguiça e nunca mais compareci àquele estabelecimento pra puxar ferro. Poderia ser um baixinho musculoso, até cultivei um “tanquinho” que me orgulhava por certo tempo. Depois descobri a cerveja e ficou tudo bem.

Depois de adquirir a barriguinha protuberante, que todo macho-alfa-saco-roxo deveria cultivar, comecei a correr pra ganhar condicionamento físico. Nunca consegui completar um mês, ou 5 km. Eu poderia chegar à frente do amigo Luciano Marino nessas corridas de rua se tivesse terminado o que comecei.

Lembro ainda de alguns versos das cartinhas apaixonadas que deixei pela metade e nunca entreguei. Eu era um piá bem bobo e tinha toda aquela insegurança adolescente e o medo de ser rejeitado. Coisas que me impediram de ir além. O mesmo vale para as poesias que eu escrevia no fundo dos cadernos de matemática. Não é à toa que eu não me dou bem com números.

No mínimo eu teria mais histórias pra contar.

Já larguei um namoro no meio do caminho uma vez também. Mas esse eu terminei.

Um dia toquei “Aquarela”, composta por Toquinho, em uma churrascaria ruim de Cuiabá. Depois, a pedidos, emendei “Como uma onda”, de Lulu Santos. Os pedidos eram da minha família, claro, que estava lá pra ver se o investimento nas aulas de violão valia a pena. Aquele dia foi estranho e legal, mas nunca se repetiu, pois a apresentação fazia parte das aulas a e nunca mais voltei.

Pouco tempo depois decidi tomar aulas de guitarra, porque eu era roqueiro e tal.

Depois de um tempo recebei um convite pra tocar com o meu primo músico em uma banda que só tocava Marilyn Manson. Ninguém se vestia ou agia como esse retardado age, as músicas eram boas, mas eu tinha dificuldades em me acertar com o compasso das músicas. Ainda tenho, na verdade. Deveria ter ido até o fim das aulas.

Um dia faltei a um ensaio e nunca mais toquei. Tempos depois toquei guitarra num palco durante uma música. Foi no meu casamento e já se vão dois anos sem pegar na guitarra.

Treinei Taekwondo até chegar à faixa verde.

Eu nunca terminei o jogo Rock´n Roll Racing. Fico triste por isso, sempre tentei e adoro esse jogo do SNEs. Até hoje me pego pensando no que deve ter após a fase do Inferno (Já zerou? Conta aí!). Nunca tive paciência pra chegar ao fim de nenhum Zelda e larguei Sonic no meio do caminho. Gosto dos jogos mais rápidos.

Recentemente tive grandes ideias (quando é ideia sempre parece grande) para grandes projetos com um grande amigo. Mas tem sempre um “mas” e um futuro do pretérito no meio do caminho.

Livros, projetos, cursos, hobbies, textos para este blog: uma vida inteira pela metade. E, pra não dar sopa para uma grande ironia, decidi terminar esse texto.

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O lado da propaganda que não entra na pauta http://4verbos.com.br/o-lado-da-propaganda-que-nao-entra-na-pauta/ http://4verbos.com.br/o-lado-da-propaganda-que-nao-entra-na-pauta/#comments Fri, 19 Jul 2013 13:21:59 +0000 Leandro Magalhães http://4verbos.com.br/?p=1537 De um tempo pra cá alguns jovens, em momentos diferentes e por meios distintos, chegaram a mim com uma dúvida: “Estou pensando em fazer publicidade, o que você acha?” Impressionante como uma pergunta tão específica pode ter uma resposta tão ampla. Os benefícios de ser um publicitário todos sabem. Os malefícios também. Procure por “publicitário” no Google Imagens e leia as tiras de “Mário, o Publicitário”. Resumidamente, esses são os perrengues da profissão. Agora, o que quase ninguém fala é da parte que fede. Portanto, jovens que pretendem trabalhar com comunicação: aqui vai um pouco da parte mais suja dessa profissão. Se você quiser frequentar festinhas badaladas, decorar a estante com alguns prêmios, trabalhar de bermuda e fazer ótimos amigos, você precisa ter estômago para aguentar o seguinte cenário:

Antes uma observação. Trabalho há 10 anos com propaganda, 95% desse tempo dentro de algumas agências em Cuiabá, Mato Grosso. Portanto, o que vou relatar aqui é de conhecimento sobre esse mercado. Se você não for de Cuiabá, pergunte para alguém da sua cidade como funciona o sistema por aí. Provavelmente será o mesmo cenário.

Você fará bons amigos.

Capítulo 01 – Submissos e Conformados
Somos uma classe que aceita as coisas como elas são. É assim que funciona e pronto. Nosso salário não é registrado na carteira de trabalho e não recebemos em dobro nossa hora extra dedicada à empresa nos finais de semana ou nas madrugadas. Não temos um órgão que determina nosso piso ou teto salarial. Não precisamos de diploma para exercer a profissão. Não existe sindicato dos profissionais, o sindicato das agências é ridículo e ninguém faz nada para mudar isso. Como disse, somos submissos e conformados.

Capítulo 02 – Licitações e Concorrências
Boa parte do lado que fede da publicidade está podre por um mal chamado licitação. Em 10 anos devo ter participado de umas 30 licitações, incluindo públicas e privadas. Talvez cinco delas não tenham sido carta marcada. É um período de extrema dedicação em vão do profissional. A gente rala, se dedica, trabalha com tesão no projeto, perde festa de família, perde fim de semana, perde os primeiros passos da sua filha para participar de uma concorrência em que a solicitante já sabe quem vai ganhar, mesmo antes de abrir as propostas. Se nas licitações públicas, para as quais teoricamente existem leis e regras, o sistema é fraudulento, imagine nas concorrências de empresas privadas, onde ninguém fiscaliza nada. Assembleia Legislativa, Câmara dos Deputados, Secretaria da Copa e até concorrência de shopping center. Já vivi de tudo e repito: fede. Me faltam provas, mas gostaria muito de citar nomes e dar exemplos práticos. Quem sabe um dia algum jornal de domingo à noite não mostre uma matéria com aquelas câmeras escondidas e gravações telefônicas clandestinas, revelando como o sistema funciona. Se bem que isso é muito pouco provável. Os canais de televisão  fazem parte do sistema. Tem TV, inclusive, que é dona de agência de comunicação. Mas isso é assunto pra outro capítulo.

Capítulo 03 – Mídia Vendida
Já parou pra pensar como um jornal ganha dinheiro? Não, não é vendendo nas bancas. Ele ganha com os anúncios que decoram as folhas entre uma reportagem e outra. Televisão, rádio, site de notícias, todos funcionam do mesmo jeito. Como todos sabem, a mídia tem um poder violento na formação da opinião pública. E é aí que mora o perigo. Boa parte dela é vendida. Sites e jornais constantemente ameaçam órgãos ou concessões públicas dizendo que se eles não anunciarem no canal vão publicar uma reportagem negativa sobre a instituição. É simples assim: “Anuncie que eu calo a minha boca”. E você sabe o que as agências e as empresas fazem? Anunciam. É o sistema alimentando o sistema.

Capítulo 04 – “Pra inglês ver”
Certa vez perguntei para uma pessoa que trabalhava em uma secretaria de comunicação se a nossa campanha teve algum resultado. Ela virou pra mim e disse: “A gente não faz propaganda para alcançar resultados”. Publicidade para órgão público é, na maioria das vezes, uma grande prestação de conta. Nenhuma campanha para prefeitura, governo ou qualquer secretaria possui métrica ou mensuração de resultado (não que eu saiba). Não precisa medir resultado. Tudo é fachada. Desculpa para gastar o dinheiro público. Já vi anúncio de um quarto de página de jornal ser liberado pra um veículo de comunicação do interior do interior do Estado por 10 mil reais. Um jornal com 100 exemplares não vale 10 mil reais. Isso é só mais um dos modos que o sistema achou para fazer desvio de verba. Como eu disse, fede.

Já fui júri, já presenciei manipulação de resultado, já vomitei no banheiro das festas.

Capítulo 05 – Premiação
A única premiação que dou valor é para a categoria acadêmica. O resto é jogo de interesse. Na minha cidade existem 3 “grandes” premiações publicitárias. Dois veículos e um fornecedor. Já fui júri, já presencie manipulação de resultado, já vomitei no banheiro das festas. Aprendi com um grande amigo que mais importante que o prêmio é quem premia. Portanto colega, quando o prêmio for dado por alguma instituição de rabo preso, a premiação não vale nada. Não ganha a melhor peça publicitária, ganha quem mais investiu. A boa notícia é que parece que as coisas começaram a mudar nos últimos 2 anos. Aparentemente a criatividade começa a ganhar peso na escolha dos premiados.

Desculpe se explorei apenas o lado negativo da coisa, mas acho importante que você, estudante, saiba antes de mais nada como as coisas funcionam por aqui. São assuntos e temas pouco ou nada abordados dentro das universidades. Não se fala abertamente sobre isso. E o meu principal objetivo com esse texto é esse, conversar sobre esses assuntos. Isso tem que entrar na pauta. Assim você faz a sua escolha sabendo em que vai se meter. Muita gente tem se cansado e abandonado o barco. Admiro quem tem essa coragem. Amigos meus, ótimos profissionais, tem saído de dentro das agências para trabalhar dentro das empresas ou mudado de profissão. Blogueiro, cozinheiro, empresário, músico… todos sobreviventes de guerra. Mas também admiro muito quem persiste. Uns por não terem outra opção, afinal, no fim do mês é preciso pagar algumas contas. Outros por acreditarem que com o tempo e a disseminação de valores corretos dentro da profissão algo possa ser diferente.

Eu, particularmente, me encaixo nesse último perfil. Não quero dizer que sou o Messias, mas também estou longe de ser um zumbi que aceita a vida como ela é. E é isso que espero de quem pretende começar nessa profissão. Saiba que, assim como toda profissão, existem falhas e sujeiras. E se você não vier com pensamentos positivos, com vontade de fazer seu trabalho e um “algo a mais” para mudar tudo isso, você não vai aguentar e logo vai cair fora.

E pra finalizar uma sugestão de livro bem legal: Tudo o que você não queria saber sobre propaganda. Do Newton Cesar. Mais informações aqui.

Se alguém quiser continuar essa conversa pode me mandar um e-mail. Podemos marcar uma cerveja e discutirmos mais sobre o tema. Afinal, de alguma maneira tudo isso tem que entrar na pauta.

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Sorte para quem não a tem http://4verbos.com.br/sorte-para-quem-nao-a-tem/ http://4verbos.com.br/sorte-para-quem-nao-a-tem/#comments Tue, 02 Jul 2013 14:26:12 +0000 Luciano Marino http://4verbos.com.br/?p=1410 É muito comum que as pessoas se queixem da sua falta de sorte. Você certamente já ouviu alguém dizer que nunca ganhou nem panela em bingo de quermesse. Você, provavelmente, também já disse isso. Só não entendo qual é a relação que isso tem com a sorte. Ser sorteado entre milhares de pessoas não é sorte, é cagada. Muita cagada. Reúna 15 pessoas e tirem a ‘sorte’ no palitinho, você fatalmente vai perder, 15 pra 1 é muita coisa. Imagine então num bingo de igreja com 5.000 pessoas? Algum matemático calcularia isso facilmente e diria que a probabilidade é a mesma de ser atingido por uma cusparada de pinguim enquanto passeia pela Savana Africana. É muito difícil ter esse tipo de sorte.

Ainda assim, sem querer parecer esnobe, eu me considero uma exceção. Por algum motivo sou constantemente contemplado sempre que me meto em algum sorteio. Diria que estou bem acima da média, bem acima mesmo. Normalmente ganho mais do que perco, mas nem por isso me considero alguém tipicamente sortudo, muito pelo contrário. Permita-me que eu explique isso direito.

Há 20 anos atrás eu era um típico garoto do interior. Vivia numa cidade bem pequena batizada de Colider (conheça Colider assistindo ao Jornal Nacional). Naquela época, tinha como únicas preocupações na vida tirar boas notas na escola e não perder a hora para assistir ‘Os Cavaleiros do Zodíaco’. O tempo passa bem mais devagar quando se tem 11 anos de idade em uma cidade pacata e perdida no meio do nada. E foi justamente nessa época da minha vida que eu comecei a descobrir o rabo que tinha para sorteios.

Em um belo fim de semana viajei com a minha família para uma cidade próxima onde aconteceria uma corrida de kart. Era a inauguração do kartódromo de Sinop, cidade igualmente pacata no norte de Mato Grosso. Meu irmão, três anos e meio mais novo, e eu, herdamos de meu pai a paixão pelo automobilismo. Para nós três, aquele kartódromo era o que Meca é para um muçulmano. Saímos no sábado de manhã e pouco mais de 2 horas chegamos à capital do trigo – ou seria a capital do arroz? Sinop nem era tão distante assim, o problema é que nosso carro era um Corcel I. Você lembra do Corcel I? Enfim.

É Deus no céu, e ‘nóis’ no Corcel.

A largada da 1ª bateria seria ao meio dia, pilotos do país inteiro vieram para aquela etapa do campeonato brasileiro de kart – ou seria o campeonato estadual? Não lembro direito da relevância do evento. O que lembro é que estávamos nós quatro: pai, mãe, irmão e eu sentados na arquibancada esperando pelo início da corrida. Mais de 10 mil pessoas lotavam as dependências do novíssimo kartódromo. Clima perfeito para um sábado de muita velocidade.

Em determinado momento, o narrador da prova, que animava o público, foi até a reta dos boxes e subiu em um palco mal e porcamente instalado. Com seu microfone em punho berrou para os seus ouvintes: - Atenção, população de Sinop e região. Vamos sortear agora esta linda bicicleta 18 marchas. Todos guardaram o canhoto com número do ingresso? E a multidão respondeu em uníssono: - Siiiiiiiiimmmmmm. O narrador continuou: - Então vamos lá, o número sorteado é… (ele dizia isso enquanto metia a mão dentro de uma enorme urna de acrílico com os 10 mil e tantos papeizinhos. Enquanto ele falava eu pensava comigo: que baita mico para quem ganhar tem de ir lá embaixo buscar aquela bicicleta) …e o número é 3.850.

Naquele momento eu olhei para o lado e vi o número que meu irmão segurava, e para minha surpresa era o 3.851. - Cacilda, você é muito azarado, não ganhou por 1! Então caiu a ficha: eu tinha depositado meu número exatamente antes dele. Levei a mão ao bolso e puxei o meu canhoto, quando olhei para ele senti o coração bater mais rápido que o ‘Paulinho pé de chumbo’, pole position daquela bateria.

- Mãe, olha aqui, deve ter alguma errada com o meu número, é o mesmo que o moço do microfone anunciou.
– Não tem nada de errado, você ganhou a bicicleta, seu idiota.
– Ganhei?

De fato, ganhei. Paguei o mico de descer até a pista e ser observado por toda aquela gente. Assim que cheguei à pista, o narrador perguntou meu nome e apontou o microfone para a minha fuça: - É Luciano. Respondi e me assustei com o deley da minha voz sendo amplificada alguns segundos depois pelas enormes caixas de som. - Você é muito sortudo, sabia? Foi a segunda pergunta. Voltou o microfone em minha direção, mas dessa vez eu não sabia o que dizer, pra mim aquilo não foi uma pergunta, e sim uma constatação. Então achei melhor ficar quieto. O narrador continuou olhando pra mim com o microfone a um palmo do meu queixo. Todos no kartódromo ficaram mudos esperando por uma palavra minha. Eu continuei quieto e assustado, primeiro porque não sabia o que responder (o que eu poderia dizer? Você acha mesmo?), segundo porque estava com muita vergonha do som da minha voz saindo daqueles alto-falantes.

Passaram-se alguns segundos e senti que todos estavam torcendo para eu dizer alguma coisa, qualquer coisa. O narrador percebeu que estava diante de um garoto bastante mocorongo, então fez a terceira pergunta daquele quase monólogo: - Onde você mora, Luciano? Essa era fácil, respondi prontamente: - Colider. Mas, voltei a fazer merda. Como eu estava no auge da minha puberdade, também estava trocando de voz, e nessa fase é muito comum oscilar entre o grave e o agudo dentro da mesma palavra. O resultado foi um desastroso CO (bem alto e grave) LI (baixo e agudo) e DER (alto e novamente grave). Uma gargalhada sem precedentes naquele kartódromo foi ouvida. O narrador se sensibilizou com a minha cara de matuto perdido e tentou me ajudar, fazendo a quarta e última pergunta: - Luciano, como você vai fazer para levar essa bicicleta até Colider? Então eu fechei o show de horrores com chave de ouro: - Se meu pai deixar, vou amarrá-la em cima do Corcel. Só consegui aumentar a gargalhada. Aquela experiência me traumatizou por alguns anos.

Que venha o Tour de France!

Já mais velho e um pouco menos bocó, continuei sendo perseguido pela sorte quando viajei a trabalho para conhecer a filial de uma das empresas do grupo onde eu trabalhava. Naquele dia fariam uma grande festa de confraternização após o expediente e eu fui convidado a participar. Lá chegando, o diretor da companhia avisou que sortearia entre os funcionários uma viagem com tudo pago e direito a um acompanhante. Teoricamente, eu não fazia parte daquela equipe, apenas coincidiu de estar presente na cidade no dia da festa. Fiquei num canto observando tudo de longe, vendo como todos estavam ansiosos para conhecer o felizardo que relaxaria em Porto Seguro.

Então chegou o tão esperado momento do sorteio e alguém sugeriu que meu nome se integrasse aos postulantes ao grande prêmio da noite. Afinal de contas, eu trabalhava no mesmo grupo e acharam que seria um sinal de hospitalidade me dar uma chance de ganhar também. Imediatamente eu sugeri que não o fizessem, estava ali apenas como convidado, não precisavam se preocupar comigo. Mas, insistiram, e lá foi meu nome pra dentro da urna. Pensei comigo: só falta eu ganhar e gerar um mal-estar com a filial inteira. É melhor que eu não ganhe. Mas, não deu outra. A mão que puxou o papelzinho me encontrou, e dentre os 450 candidatos a visitar a Bahia, eu fui o escolhido. E como eu suspeitava e temia, praticamente todos me olharam torto, não concordando muito com a minha participação. O pinguim cuspiu novamente na minha cara em plena Savana Africana.

O que esse maldito forasteiro veio fazer aqui?

Também ganhei um aparelho de DVD numa época em que aparelhos de DVD representavam a última palavra em tecnologia. Estava em um evento beneficente e alguém resolveu sortear o eletrônico de uma forma diferente. Todos os presentes tinham que colocar seus nomes dentro de um globo, na sequência começariam a retirá-los e o último nome que restasse seria o grande vencedor. A ideia era privilegiar os mais azarados. Eu não estava muito empolgado com aquele prêmio, havia comprado um aparelho de DVD em suaves prestações uma semana antes. Eu não precisava de dois Discos Digitais Versáteis, era melhor não gastar a sorte com aquele prêmio.

Então começaram a tirar os nomes. Fui ficando, ficando e ficando. Até o momento onde só sobraram apenas dois nomes dentro do globo da sorte. Eu e uma tal de Chatriane. Que diabo de nome era aquele? Chatriane. Imagina se ela se casa com alguém da família Chateaubriand? Chatriane Chateaubriand. Eu não podia ser menos sortudo do que alguém que recebeu um nome desses. De novo, não deu outra. Chatriane virou Chatriane da Gama e eu fiquei com dois aparelhos de dêvêdê. Depois ela, a Chatriane, veio negociar comigo. Perguntou se eu não queria vender o prêmio a ela. Fui sincero com a simpática garota, e disse que acabara de comprar um aparelho igualzinho e que daria aquele de presente a ela. Chatriane era bonitinha e eu pensei que com aquele gesto ela pudesse me convidar para tomar uma garapa qualquer dia. Só que não. Fiquei sem o encontro e sem o DVD.

Se a sua vida for a melhor coisa que já te aconteceu, acredite, você tem mais sorte do que pode imaginar.

Em certa ocasião ganhei também um forno para assar pão de queijo. Muito útil, devo ressaltar. Como alguém viveria sem um desses em casa? Também ganhei um ventilador, uma câmera fotográfica e um carro. Mas esse do carro acho que não vale. Foi em um bingo, de novo em Colider. O padre da cidade vivia realizando megabingos aos domingos e a paróquia comparecia em massa. Como disse, era uma cidade bem pacata e ninguém gostava muito do Faustão. Os bingos eram sempre realizados na praça central da cidade, onde os fartos gramados ficavam tomados pela população em busca da sorte grande.

Num desses eventos eu estava lá com a minha cartela, faltavam umas 10 pedras para mim e já tinha neguinho na boa. Em disputa estava o 2º prêmio da tarde, um Gol mil zero km, daqueles quadradinhos que vieram antes do Gol bola. O 1º prêmio era um Escorte XR3 vermelho, conversível, coisa linda. Com aquele padre não tinha miséria. Como ia dizendo, minha cartela não estava muito animadora, nem se cantassem todos os números do globo eu ganharia alguma coisa naquele dia. Porém, ao meu lado, contrastando com meu tédio, estava meu tio, que se retorcia impacientemente.

- Tá na boa aí, tio? Perguntei.

- Não, Lu, bebi muita cerveja e preciso desesperadamente de um banheiro. O problema é que faltam só 3 números aqui na minha cartela. Você não quer marcar pra mim? Disse já não se aguentando de vontade de se aliviar.

- Claro, tio, eu marco com o maior prazer. Então fiquei sozinho marcando as duas cartelas.

Enquanto isso o cantador de bingo disparava com a sua voz imponente:

- Rooooooodou o globo e caiu! Letra ‘O’, raso número 60! Repetindo: Letra ‘O’, raso 60! 

- Ih, rapaz! O tio tem esse número, faltando só duas pedras agora.

- Rooooooodou o globo e caiu! Letra ‘N’, dois patinhos na lagoa… 22! Repetindo: Letra ‘N’, número 22! 

- Carambola! Ele tem de novo. Tá na boa! Acho que agora sou eu quem precisa de um banheiro. Quer ver eu ganhar e ter que subir no palco de novo? Melhor parar por aqui.

- E atenção que já tem gente na boa. – Rooooooodou o globo e caiu! Letra ‘I’, sorte para quem não a tem… 13! Repetindo: Letra ‘I’, número 13! 

- Bingo, bingo aqui… Bingo!!! Bingo!!! Biiiiiiiiiiingo!!! Berrei aos quatro ventos. Meu tio havia ganhado um carro, isso lá era hora para estar preocupado em mijar? Não sabia se corria atrás dele ou se ia até o palanque falar com o padre. Lembrei do mico no kartódromo e fui atrás do mijão. Consegui encontrá-lo no meio do caminho e lhe entreguei a cartela premiada: - Toma, passa que é teu! O homem não acreditou ao ver sua cartela toda preenchida, me deu um abraço e sumiu na multidão atrás do seu prêmio.

Daniel Godri disse certa vez: “Se a sua vida for a melhor coisa que já te aconteceu, acredite, você tem mais sorte do que pode imaginar.” Tenho uma teoria para a sorte: você não pode desejar o prêmio. É uma forma de enganar as forças que escolhem os vencedores e os perdedores de sorteios. No meu dia a dia eu sou incrivelmente azarado, o amigo Leandro Magalhães sabe bem como as coisas funcionam comigo. A bobina do caixa do supermercado sempre termina na minha vez. O pombo sempre vai cagar na minha cabeça, não importa se eu estiver sozinho escalando o Everest ou em um show da banda Calysto. É Calysto o nome daquela banda com uma cantora brega e um guitarrista com mecha no topete? Aquilo é uma mecha ou o pombo também cagou na cabeça dele?

Não importa, a questão é que comigo o pneu sempre fura. O dente sempre quebra. A maquininha da Cielo sempre trava. A bolada sempre me acha. O cachorro sempre me morde. O dedo sempre corta. O celular sempre cai na privada. O moleque catarrento sempre senta ao meu lado no voo longo. A fila do guichê sempre enrosca. Acho que é para compensar todos esses pequenos azares que o universo me presenteia de vez em quando com viagens, bicicletas e fornos para assar pão de queijo.

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O que ensinei depois de ter aprendido http://4verbos.com.br/o-que-ensinei-depois-de-ter-aprendido/ http://4verbos.com.br/o-que-ensinei-depois-de-ter-aprendido/#comments Tue, 21 May 2013 20:12:25 +0000 Luciano Marino http://4verbos.com.br/?p=1295 Participar de uma corrida de rua não é tão simples quanto parece, a preparação termina apenas na véspera. Um dia inteiro dedicado ao repouso absoluto, onde você se parece mais com um monge budista em busca da paz espiritual do que com um atleta amador. Não pode ser diferente, você deve preparar músculos e cérebro para cumprir a sua missão mais denodada do fim de semana: cruzar a linha de chegada com alguma propriedade. Por isso que a véspera, quase sempre um sábado, é um dia de muita expectativa e concentração. Você precisa comer direito, dormir cedo, estudar os adversários e acreditar que se preparou como devia (pensando bem, pula a parte de estudar os adversários). Tudo para que você esteja no seu melhor astral quando o despertador interromper seu sono às 5h30min de um domingo chuvoso.

A chegada ao local da largada, normalmente sem vaga para estacionar, é de um prazer indescritível para qualquer corredor de rua. Você acaba parando o carro em um local proibido, e isso o atormenta por todo o percurso da prova. Será que vou levar uma multa? Enquanto caminha em direção das tendas brancas patrocinadas por algum plano de saúde qualquer, flagra os outros competidores se alongando por toda a parte, sempre aos milhares, sempre exalando empolgação. A voz aguda do narrador do evento amplificada pelas potentes cornetas das caixas de som mistura-se com as altas doses de adrenalina que começam a colocá-lo em sintonia com toda aquela tribo. Você é só mais um anônimo, sabe perfeitamente disso, mas a barriga, inexplicavelmente, começa a ficar gelada. Então você parte atrás do seu kit, e às vezes, de um banheiro químico também.

Tecnologia de absorção de impacto? Me fale mais sobre isso.

E lá estão elas, as filas – de retirada dos kits, não dos banheiros. Quase sempre organizadas em pares pela letra que inicia o nome do atleta: A/B; C/D; E/F… totalizando 13 filas mais ou menos do mesmo tamanho. Nesse ponto levo alguma sorte, uma vez que o ‘L’ é sempre parceiro do ‘K’. E pelo que venho observando, não devem haver muitos Klebers, Keyrrisons, Karens e Colin Powells interessados em corridas de rua, já que é uma das filas menos populares em todos os eventos que participo. Ainda assim, isso não significa que seja a fila mais rápida, sempre tem um enrosco na minha frente e a fila do R/S acaba andando mais rápido. - Não é Cleyson, com ‘C’, é com ‘K’, cadastrei no site, aqui meu RG.

Com o kit na mão, vem a maldição de ter que lidar com os alfinetes. Não entendo essa mania besta de pregar o número na camiseta com alfinetes, uma dupla face, um velcro, um adesivo qualquer ou mesmo uma cola super bonder resolveria a questão. Mas, preferem o jeito mais complicado, e nos dão o tal kit do atleta com chip, vale medalha, vale sorteio, número de inscrição e 4 malditos alfinetes. Desajeitado que sou, levo mais tempo que o normal para afixar meu número, acabo pregando torto e sempre me dou uma espetada no umbigo. Quando vencer a maratona de São Paulo e o Robson Caetano vier me entrevistar ao vivo, farei esse apelo aos organizadores.

Você é só mais um anônimo, sabe perfeitamente disso, mas a barriga, inexplicavelmente, começa a ficar gelada. Então você parte atrás do seu kit, e às vezes, de um banheiro químico também.

Diferentemente do que acontece no cinema, a vida não tem efeitos especiais. Quando você encontra a sua alma gêmea, não toca uma música romântica ao fundo, a troca de olhares não acontece em câmera lenta e os diálogos não são sincronizados por um roteirista. Mas quando toca a buzina sinalizando a largada da corrida, juro que vejo tudo em câmera lenta e quase posso ouvir “Carruagens de fogo”. É um momento mágico (sem qualquer conotação homossexual nessa entonação. Imaginem o Rambo falando isso.) Ainda tá estranho, melhor tirar esse mágico daí. É um momento legal. Pronto.

- Momento mágico da porra!

Enfim. Disse tudo isso porque encontrei um amigo de longa data antes da prova, então perguntei em qual tempo que ele estimava fazer o percurso da prova. E ele, meio intimidado, disse que não pretendia correr os 10 km, apenas uns 5 e terminar caminhando. Perguntei então se ele estava com hérnia ou se a caxumba havia descido. Onde já se viu! Falei que que se ele conseguisse correr 5 km, conseguiria correr 10, 15 ou até mesmo 42,195. – Como assim? Quis saber. Então eu dei uma sequência de dicas e expliquei que tudo está na mente. Ele entendeu, não esperava que ele entendesse, normalmente não sei explicar as coisas, mas ele realmente entendeu. Correu os 10 quilômetros e se surpreendeu com o seu desempenho. Caramba, nunca tinha corrido 10 quilômetros direto, obrigado pelas dicas, vamos beber para comemorar?

Fiquei feliz, senti que realmente tive alguma participação naquele feito. Por isso resolvi transcrever as tais dicas para que sirva de incentivo a mais alguém. Mas, antes um aviso: são apenas dicas (algumas bem idiotas) que eu aprendi participando de corridas de rua nos últimos dois anos. Lembre-se que cada um tem seu próprio limite, não os ultrapasse, apesar das campanhas publicitárias de isotônicos dizerem o contrário. Não saia correndo por aí sem antes consultar um médico. É sério. Eu fiz isso antes de qualquer coisa. Não seja estúpido e ouça o que eu digo.

Ele entendeu, não esperava que ele entendesse, normalmente não sei explicar as coisas, mas ele realmente entendeu.

Dito isso, eis a chave do sucesso nas pistas.

Dica nº 1: Fracione a corrida em trechos. As corridas de rua têm normalmente 10 km, um número bem legal para dividi-la em partes iguais. Você já parou para pensar o quão distante são 10 quilômetros de asfalto? É longe pra burro. Por isso você não pode pensar nisso quando começar a correr. Caso contrário, vai estar desanimado antes mesmo de começar. Pense em mil metros, só isso. Você pode ver algo que está a mil metros de você, logo, você pode alcançá-lo. Trace uma meta para percorrer esse quilômetro. Cinco minutos? Seis? Sete? Almeje 6 minutos por quilômetro, o que fará você correr os 10 km em 1 hora cravada, o que não deixa de ser um bom tempo. Esqueça todo o resto, pense que você vai correr aquele quilômetro em seis minutos. Conseguiu? Pense no próximo trecho como se não houvesse amanhã. Esqueça que você está correndo 10 quilômetros. Vá monitorando o tempo com um cronômetro de pulso e a distância através das placas ao longo do percurso.

Dica nº 2: Corra antes de correr. É muito comum ver os atletas do pelotão de elite correndo antes da largada. Eles não estão gastando energia à toa, muito pelo contrário. Eles estão condicionando o corpo ao ritmo da prova. Quando corremos a nossa frequência cardíaca praticamente dobra, o coração bombeia muito mais sangue e essa mudança causa uma extrema sensação de cansaço. Depois de um tempo o cansaço intenso diminui e o corpo encontra uma harmonia para manter aquele novo ritmo. Pegou a ideia?

Dica nº 3: Olhe pra baixo nas subidas. Talvez a mais valiosa das dicas que você vai ler nesta lista. Não importa o tamanho e inclinação da ribanceira, olhe para o dedão do pé e imagine que você está numa superfície plana. Ou melhor, imagine que você está descendo. Isso fará com que você engane seu cérebro. Isso mesmo, aqui entra o imenso poder da mente sobre o corpo. Mande a seguinte ordem ao seu cérebro: – Amigo, estamos agora correndo em uma linda descida cercada por flores do campo, está sentido a brisa vinda do sudeste? Acredite, funciona, desde que você não dê uma espiada para frente para ver quanto falta para a subida terminar.

Dica nº 4: Hidrate-se antes, durante e depois da corrida. Agradeça depois de pegar a água das mãos do entregador, parece bobo, mas é um belo exemplo de gentileza. Caso derrube o copinho na passagem, se desculpe. Eu precisei de quatro corridas para aprender a pegar o copinho sem fazer alguma merda. Eu sempre tinha que parar e juntá-lo no chão, atrapalhava quem vinha atrás, um tapado completo.

Dica nº 5: Carboidrato em gel. Vi o Rafael Nadal tomando um leite condensado antes de um jogo e fui atrás de saber do que se tratava. Era um sachê de carboidrato em gel, indicado para ser consumido antes de longos esforços físicos. Seu alto teor calórico tem absorção rápida e transforma-se em energia pura, um pequeno milagre, diria. Desde então não consigo mais correr sem antes tomar um sachê 20 minutos antes da largada. Importante consumir acompanhado de água. E torça para a prova não ter antidoping.

Dica nº 6: Solte o som. Experimente correr ouvindo apenas seus passos, sua respiração ofegante e o silêncio martirizante de uma corrida solitária. Agora experimente usar fones de ouvido com o som da sua banda preferida no volume máximo. Embarque na letra da música e run, Forrest, run! Nem preciso dizer quem te levará mais longe.

Dica nº 7: Só mais um pouco. A todo instante vai te surgir a ideia de jerico de parar de correr. Sempre que isso ocorrer, pense que você vai correr só mais um pouquinho. Você aguenta, e quanto mais aguentar mais fácil ficará aguentar de novo. Isso acontece devido ao fenômeno relatado na dica nº 2. Você perceberá que vai chegar um momento onde você não sentirá mais nada, as pernas ficarão praticamente anestesiadas. Quando isso acontecer, apenas continue correndo.

Dica nº 8: Tome nota. Nada melhor para se manter motivado do que ir registrando seus feitos. Costumo dizer que correr é muito diferente de jogar futebol. Na corrida você evolui, quanto mais você corre, melhor fica seu desempenho – não tem muito mistério. Diferente do futebol, onde você joga a vida toda e ainda assim é ruim igual a uma pedra. Por isso vá marcando seus resultados em uma tabela, compare os tempos e surpreenda-se. Outra forma de se manter motivado é aderir a um bom aplicativo para Smartphone. O mais badalado deles é o Nike Run, que coleta praticamente todos os dados da sua corrida, cruzando informações e criando gráficos.

Com tudo isso em mente o desafio fica mais fácil, e você acaba encontrando um grande prazer em algo aparentemente tão monótomo. Correr está muito longe de ser monótomo, é algo que te faz sentir conectado com o seu instinto mais primitivo. E como se não fosse o bastante, correr ainda fortalece seus tecidos, elimina o cortisol, aumenta a massa óssea e te faz encontrar respostas simples para perguntas complexas. Correndo você evolui, faz amigos, potencializa a vida e posterga a morte. Correr é o mais puro estado de liberdade que se pode alcançar, desde que você não se esqueça de olhar para baixo nas subidas.

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Uma grande ferramenta do comportamento humano http://4verbos.com.br/umagrandeferramentadocomportamentohumano/ http://4verbos.com.br/umagrandeferramentadocomportamentohumano/#comments Thu, 02 May 2013 21:07:53 +0000 Leandro Magalhães http://4verbos.com.br/?p=1259

4 Verbos Cabalísticos? Daria um post.

As pessoas têm dúvidas. As pessoas têm dúvidas estranhas. E as pessoas jogam essas dúvidas no Google. O maior buscador de todos os tempos em todas as galáxias da internet faz suas sugestões com preenchimento automático com base em buscas frequentes dos usuários brasileiros. Assim, o Google deixa de ser “apenas” um site que encontra tudo e passa a ser uma grande ferramenta de comportamento do ser humano.

Esse vídeo, por exemplo, mostra a coleção de medos que envelhecem junto com a gente:

 

Outro que brinca com a ferramenta de pesquisa é o tumblr “Gente que Busca”. Ele faz um screenshot de algumas buscas bem estranhas. Clique na imagem e navegue pelas dúvidas dos brasileiros:

Querem prender o Papa? Por que?

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Carta Caramelo http://4verbos.com.br/carta-caramelo/ http://4verbos.com.br/carta-caramelo/#comments Wed, 17 Apr 2013 18:16:46 +0000 Leandro Magalhães http://4verbos.com.br/?p=1228

Aos 4, você sentou.

Olá gordinha! Essa é uma carta do passado. Escrevo essas linhas no exato dia em que você completa seu primeiro ano de vida: 17/04/2013. Escrevo essa carta para você e também para mim. Pra você porque com um ano de idade você ainda não entende muito bem o que eu quero te dizer. E é também pra mim porque de alguma maneira preciso deixar marcado esse momento incrível em nossas vidas. Afinal, hoje você completa um aninho. Aos 15, quando você estiver lendo essa carta, com certeza ainda estarei muito feliz, mas de maneira diferente. Assim como aos 25, quando estiver ao meu lado entrando pela porta da igreja. Portanto Clara, minha filha, essa carta é para nós.

Te chamei de “gordinha” no início do texto. Não me julgue mal. É assim que a gente te chama. É assim que sua mãe me chama. Se aos 15, você ainda estiver gordinha, não se preocupe, você não é mais ou menos que ninguém por isso. Não se importe muito com sua aparência. Quando ficar adulta vai perceber que seus olhos claros vão dizer muito mais sobre você do que sua silhueta.

Ontem, pela primeira vez, você disse “papai” claramente. Cheguei do futebol com os amigos e lá estava você na porta, no colo da sua avó, me chamando. Ontem também seu narizinho escorreu sangue. Ficamos preocupados. A gente sempre fica. Ah, se a gente pudesse evitar seus machucadinhos! Se pudesse não deixaria você ter espinhas. Se pudesse não deixaria você cair de bicicleta. Não deixaria sua coleguinha grudar chiclete no seu cabelo ou que você gostasse do cara errado. Não chame seu pai de “super protetor”. Mas é que quando você chegou era tão frágil, indefesa, que a gente, mesmo sem querer, criou essa necessidade de guardar você numa caixinha e trancar no cofre. Ao mesmo tempo eu fui aprendendo que melhor maneira de te preparar para o mundo era te entregando meu amor e minha liberdade.

Não sei como vai ser daqui 10 ou 15 anos, mas “tempo” é algo tão raro e precioso hoje. Me desculpe se perdi alguma apresentação do balé, reunião da escola ou esqueci de te buscar na aula de inglês. Não significa que não te amo. Significa que ainda não consegui conciliar todas as minhas “tarefas de adulto”. Sua madrinha quem diga. Todo mundo cobra mais tempo com ela. É assim que funciona mesmo. Quando a gente ama alguém, a gente quer essa pessoa do nosso lado toda hora. Mas nem sempre dá certo. Aprenda a lidar com as frustrações. Essa é uma parte bem difícil. Inclusive se eu não te dei algum brinquedo que você queria muito foi porque eu não tinha dinheiro ou porque era importante você aprender que nem sempre se tem tudo que se quer.

Você andou aos onze meses, caiu da cama aos nove, comeu aos seis e sentou aos quatro. Não me lembro muito bem quando você deu tchau a primeira vez. Mas foi sua primeira grande gracinha. Todo mundo ria. Chegava na padaria e saía dando tchau pras pessoas. Dentro do carro, na igreja… até um dia que eu percebi que precisava te ensinar a dar oi e dizer até logo. Você ainda não aprendeu. Aliás com um aninho você conhece muito pouco do mundo. E eu tenho uma vontade tão grande de mostrar tudo que conheço. Eu comecei a ler um livro que se chama “O porquê da pergunta”, acho que já me preparando pra fase que você irá começar a perguntar tudo sobre tudo pra mim. Não quero perder uma resposta. Afinal, pra que saber das coisas se não for pra contar para os outros? Não, não estou falando de fofoca. Estou falando de conhecimento. Minha mãe, sua avó, é professora. Ela sempre sai atrasada para o colégio. Mas é um exemplo de gente que se dedica a passar conhecimento pros outros. Portanto menina, respeite seus professores! Olha eu dando bronca. Tá vendo como sou bravo? Mentira. Sempre fui um pouco sério, mas não bravo. Não sei como vou estar aos 45. Mas aos 30 ainda jogo vídeo game, passo o dedo na cobertura do bolo e toco a campainha do vizinho e saio correndo. Mas não conte pra ninguém e também não faça isso. Só se for na casa do seu Roberto lá do bairro. Ele merece um pouquinho de traquinagem.

Na semana do seu aniversário seu avô deu um susto na gente. Caiu e bateu o cabeção no chão. Nossa cidade está um caos. Obras para a Copa do Mundo. Eu trabalho há 5 anos na mesma empresa. Sua mãe tá magrinha e cada dia mais linda. A gente tá mudando de casa. Vamos morar pertinho da vovó. Seu primo está muito arteiro, seu padrinho mora longe, mas a gente consegue sentir ele presente. Aliás, morar longe é coisa da nossa família mesmo. E você conseguiu fazer uma coisa incrível no dia do seu batizado, reuniu todo mundo lá na igreja. Foi muito divertido. Esse dia a mamãe tava com uma blusa furada e você morrendo de sono. Mas foi lindo. Como tudo em que você participa.

Caramelo. Adoro te chamar assim. Em um ano você deu razão pra muitas coisas na minha vida. Faço tudo sem querer nada em troca. Porque sei que nada na vida será tão recompensador quanto te ver crescendo com saúde e muita alegria. Obrigado pelo carinho que você tem com a gente, pelo seu sorriso banguelo de quatro dentes, pelos passinhos tortos de quem tá aprendendo a andar. Feliz aniversário! E que sua vida seja doce como um caramelo. Minha gordinha.

17/04/13

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Primeiros livros não são feitos para serem bons http://4verbos.com.br/primeiros-livros-nao-sao-feitos-para-serem-bons/ http://4verbos.com.br/primeiros-livros-nao-sao-feitos-para-serem-bons/#comments Thu, 11 Apr 2013 19:35:19 +0000 Luciano Marino http://4verbos.com.br/?p=1197 Quase ninguém entende meus textos. Costumam dizer que é perda de tempo parar para lê-los. Divago demais, vivo perdendo o foco, sou raso e superficial, alegam. Normalmente não me importo muito com isso, mando-os catar coquinhos e continuo escrevendo. Até onde lembro, nunca prometi ser objetivo em minhas crônicas. Se me acha raso e indireto, que não me leia, ora bolas. Onde já se viu, o sujeito vir me dizer que meus textos são perda de tempo em um século tão democrático como é esse em que vivemos?

Expliquei isso a uma editora de uma editora (?) e ela concordou plenamente com a minha liberdade literária: Luciano, você pode escrever o que bem entender, como bem entender, na hora que bem entender, onde bem entender. Só não tente publicar – seria perda de tempo. O que as editoras querem é publicar autores profundos e diretos em seus textos, pensamentos que agreguem algo ao leitor. Um amontoado de divagações inúteis não vende, melhor guardá-las para você. Então eu também mandei a editora e sua editora catarem alguns coquinhos.

Assim que terminei o manuscrito do meu primeiro livro entreguei à minha professora de português da época do colegial, Ruth Schenffweimmer. (Não tenho certeza se escreve-se com dois ‘emes’, dos dois ‘efes’ eu tenho certeza). Uma alemã ranzinza e carrancuda, de cabelo curto e encaracolado, alta e envergada para frente – o avatar do capeta, seria uma boa definição não fosse seu gênio amável. Mesmo assim, poucas coisas são tão claras em minha memória como uma verruga que Ruth tinha no queixo. No centro da verruga um único pelo negro e espesso que centralizava a atenção sobre todos os demais elementos daquela face. Não era bonito.

Pedi a ela que revisasse meu manuscrito com a mesma atenção com que corrigia as minhas redações semanais no 2º grau. Modéstia a parte, Ruth sempre me elogiava publicamente. Não era raro flagrá-la profetizando aos seus alunos: - Classe, anotem isso: o colega Luciano ainda será um grande escritor do nosso tempo, inspirem-se nele. Sabia das coisas, a Ruth. Não deu outra, assim que terminou de ler os meus rascunhos ela entrou em estado de graça – apesar dos seus oitenta e muitos anos e sofrendo com os efeitos avançados da catarata.

Agora imagine a verruga.

Nunca compreendi direito por que eu precisava publicar um livro. Coisa besta, sem muita reflexão. Era apenas algo que queria muito fazer. Certa vez um dos melhores amigos que fiz na vida me disse sob o som aveludado do jazz clássico que tocava em uma festa de gala: Luciano, preste muita atenção no que eu vou te dizer agora. Algo só merece estar no papel se tiver alguma relevância para a posteridade, caso contrário, poupe as árvores. Ele disse isso e bebericou um martíni com a mesma airosidade de um agente secreto. No fundo eu sempre o achei meio veado, título que reconsiderei quando notei que ele tinha muito mais sucesso com as mulheres do que eu. O que também não é lá uma grande façanha.

Trajávamos black-tie, já que tratava-se de uma festa bastante pomposa e tal vestimenta se fazia indispensável, pelo menos é o que alertava o convite igualmente pomposo que recebi dias antes. Aquilo que ele me disse me fez pensar por um bom tempo. Ele tinha razão, não faz sentido derrubar parte da nossa rica flora só para imortalizar um monte de merda, para isso existe a Internet, os blogs e as latas de lixo.

É bem difícil apontar momentos cruciais onde a vida muda de rumo, mas foi bem ali, de smoking e martíni na mão que passei a viver a grande crise criativa da minha carreira de escritor, carreira essa que sequer tinha começado. Será que nunca terei meu próprio livro? Voltei a falar com Ruth algum tempo depois, precisava expor isso a ela e ouvir seus sábios conselhos. Todo mundo, em algum momento, precisa de um Mestre Ancião para dizer o que fazer.

Ruth, por sua vez, já não se lembrava mais de mim, muito menos que havia avaliado um manuscrito meu. Não lembrava sequer que tinha sido professora de redação em algum momento da vida. Descobri então que, além da Catarata, Ruth também estava começando a sofrer com o Mal de Alzheimer. Suspeito que só os descendentes de alemães têm Alzheimer na velhice, nunca ouvi falar de um queniano com tal enfermidade. Assim como nunca vi um alemão vencer uma maratona. Já vi quenianos vencerem maratonas na Alemanha. Uma, em especial, me chamou muito a atenção. Foi em Berlim, o cidadão correu 42.195 metros, cruzou a linha de chegada em primeiro lugar e deu lá duas estrelinhas para celebrar o mérito. Uma falta de respeito completa. Ninguém corre 42 quilômetros e comemora dando estrelinhas como se fosse a Daiane dos Santos. Deveriam prendê-lo por ofender os todos os sedentários do mundo.

Onde eu estava mesmo?

Lembrei, a avaliação de Ruth. Foi ela que deu o incentivo que eu precisava. Disse que o manuscrito tinha muita poesia e que eu certamente era a reencarnação de Machado de Assis. Só pediu que eu corrigisse os erros de concordância nominal e verbal, que relesse alguns livros de gramática e que não esquecesse de fazer o trabalho da semana que vem. – Mas Ruth, não sou mais seu aluno. – Você não é o Yoham, do 1º C vespertino? Guardo Dona Ruth no coração, que descanse em paz, a pobre verruguenta.

Por isso fiz a correção que ela pediu e diagramei o livro com meus próprios punhos. Fiz isso usando o Adobe PageMaker. Não sei se é o programa mais indicado, mas é o único que eu domino depois de ter trabalhado em uma gráfica durante a juventude. Na verdade, não tem muito segredo, nem para um tapado como eu. O PageMaker é o antecessor do Word, foi muito popular nos anos 1990, principalmente para diagramar jornais. Qualquer idiota aprende rapidinho a organizar um texto nele. É leve, interface simples, não trava, não tem cheiro e não solta as tiras. E foi por isso que eu não levei nem duas semanas para ter um protótipo do livro pronto para ser impresso.

Motivação é invenção de fracassado.

Meu plano era mostrar o boneco do livro para algumas pessoas antes de sair fazendo cópias por aí. O conselho do meu amigo meio veado da festa de gala ainda me perturbava de alguma forma. Li em algum lugar que você nunca deve mostrar uma obra a um amigo, ele não vai ser completamente honesto em sua avaliação. Provavelmente ele vai elogiar só para não te desanimar. Melhor mesmo mostrar a alguém que pouco se importa com você, o gerente do seu banco, por exemplo. Um inimigo seria o ideal, ele certamente faria a crítica mais imparcial de todas. Como não cultivo nenhum inimigo na vida, mostrei a um sujeito que conheci na padaria do meu bairro. Ele sempre toma seu café lendo um exemplar da Folha de São Paulo, apesar de morar em Cuiabá e ostentar um sotaque de carioca da gema. Numa escala de zero a dez de pessoas intelectualmente propensas para se apresentar um esboço literário, eu o classificaria como alguém bastante acima da média. Era ele.

- Hum, sei não. Tem muita divagação aí. Foi a sentença que ouvi dias depois, quando voltei a padaria para buscar a sua opinião do manuscrito. Mandei ele e sua Folha de S. Paulo catarem coquinhos. Vou publicar essa merda assim mesmo, afinal de contas, é só o primeiro livro. Primeiros livros não são feitos para serem bons. Ninguém escreve um best-seller de primeira. Isso só fez crescer a minha admiração pela professora Ruth. “- Classe, anotem isso: o colega Luciano ainda será um grande escritor do nosso tempo” era algo que ecoava em meus pensamentos sempre que pensava no meu livro.

Divagação: s.f. Ação de divagar, de andar por uma ou outra parte.
Fig. O ato de se desviar arbitrariamente do assunto de que se trata; digressão.

Então eu finalmente decidi publicar aquele monte de divagações. Depois eu replanto as árvores e já mato dois coelhos com uma cajadada só. Também não demorou muito para eu perceber que existe uma barreira alta e espinhosa entre ter um boneco pronto e receber os exemplares da gráfica. Orcei o valor de uma produção independente em tudo que é buraco e descobri que meu velho objetivo de juventude teria um custo nada amigável. Talvez agora o gerente do banco seja mais útil. Mas nem isso iria me fazer parar. Vendi algumas coisas que só ocupavam espaço em casa e levantei o dinheiro que precisava para… tirar a minha ideia no papel (?!). Em breve eu me tornaria elegível à ocupar a cadeira do próprio Machado de Assis na Academia Brasileira de Letras. Feito que encheria Ruth Schenffweimmer de orgulho, apesar do Alzheimer e dos efeitos avançados da catarata.

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Como lavar a louça perfeita http://4verbos.com.br/como-lavar-a-louca-perfeita/ http://4verbos.com.br/como-lavar-a-louca-perfeita/#comments Wed, 06 Mar 2013 19:16:52 +0000 lisandro http://4verbos.com.br/?p=1094 Eu não sei cozinhar. Sou um completo tapado na cozinha e morreria de fome se precisasse recorrer ao fogão pra me alimentar. Tá bom, é exagero. Eu sei fazer pudim e arroz. Em algum lugar do Google deve haver uma receita que junte esses deliciosos ingredientes em algo superior em sabor.

Para não virar um estereótipo de marido gordo, beberrão e inútil, resolvi me aperfeiçoar na arte de lavar louças. Até porque seria uma injustiça da minha parte me aproveitar das técnicas avançadas em gastronomia da minha esposa sem dar nada em troca.

Aos amigos comprometidos (casados, de preferência), fica aqui a dica mais importante que você vai ouvir de mim: se você não cozinha, lave a louça. Mais que isso, aproprie-se dela, crie regras e mostre que você sabe o que está fazendo. As recompensas aparecem no dia a dia e é sempre um argumento na manga em qualquer discussão do cotidiano. “Mas amor, eu lavo a louça”. Quase sempre funciona, vai por mim.

Mas vamos ao que interessa, sem mais delongas. Anote as dicas para lavar a louça com perfeição.

Sua pia está assim nesse momento. Encare a louça!

1 – Lavar a louça começa muito antes de lavar a louça. Explico: durante o dia, sempre que tiver um tempinho, recolha os excessos de comida dos pratos, panelas e etc. Mais: faça com que a(o) cozinheira(o) crie o hábito de não deixar nenhum recipiente com restos. Assim você ganha tempo e não precisa lavar todos os dias. Acredite, você não vai querer ver nem sentir o cheiro de uma louça com restos empilhada por mais de dois dias. Nem vou falar do feijão.

Importante: se você for esperto o suficiente NUNCA jogará esses restos de comida na pia. Adivinha quem vai desentupir aquela JOÇA? Pois é.

2 – Organize-se. Sem os restos, empilhe os pratos (do mais raso pro mais fundo), deixe os copos juntos e coloque os talheres e demais coisas (espátulas e pegadores) em uma bacia ou forma.

3 – Limpe bem a esponja e sempre mantenha uma nova por perto. Esponjas velhas ficam gordurosas. Dizem que é bom trocar a cada duas semanas, eu faço isso quando me lembro de comprar.

É hora de começar a lavar. Use a lógica da gordura. Mas que raio de lógica é essa, cara?  É simples, cabrón. Deixe tudo o que tiver mais gordura acumulada pro final.

Deixe uma chaleira com água fervendo no fogão, você vai precisar mais tarde.

4 – Comece os trabalhos lavando todos os copos. Normalmente eles não acumulam gordura de comida e com a esponja ainda limpa é garantido que eles fiquem limpos e higienizados. Use sempre o lado amarelo da espoja, aquele mais macio. Prefira um detergente que faça bastante espuma (aqui caberia um patrocínio, hein?).

5 – Vá para os talheres. Enxague todos juntos para retirar os excessos. Se quiser  use um pouco da água quente pra soltar a gordura acumulada. Separe facas de colheres e garfos. Use a esponja do lado macio com sabão em barra, que é mais útil contra as malditas gorduras. Nem pense em abrir a torneira até ter esfregado talher por talher. Faça por blocos, primeiro as facas, depois as colheres e por último os garfos. A ordem é essa e não sei o motivo, é assim que eu faço. Depois é só enxaguar tudo junto, é mais fácil.

6 – Pratos. Aqui é simples, use o lado áspero da esponja, sabão em barra e siga o ritmo e a regrinha da economia de água que você sempre ouviu da sua mãe.

Nunca, JAMAIS use o lado áspero da esponja em louças de alumínio ou que possam riscar.

Uma pausa. Se você não largou tudo pra jogar videogame, meus parabéns! Agora presta atenção nessa regra simples: nunca, JAMAIS use o lado áspero da esponja em louças de alumínio ou que possam riscar. Sério, nunca faça isso ou qualquer esforço vai por água abaixo.

Continuando.

7 – Formas, bacias e outros recipientes: use o lado macio nos que riscam e água quente naqueles que acumulam muita gordura – a maioria acumula demais. Não tem erro, tá difícil tirar? Taca água quente que sai.

8 – Deixe as panelas por último. Comece pela panela de teflon (material antiaderente que não deixa grudar NADA) porque é a mais fácil. Pingue algumas gotas de detergente direto na panela, jogue dois pingos de água e, pelo amor de Darth Vader, não use o lado áspero da esponja. Faça movimentos circulares tais como o garotinho Daniel Sam aprendeu e remova toda a sujeira dessa panela.

Caso existam panelas antigas com aquele material que não arranha, seja feliz e use uma esponja de aço. Use seus músculos, pois será necessário. Panelas são pesadas e você precisa de força pra remover coisas grudentas e nojentas.

Se tá difícil pra você, imagine pra rainha da Inglaterra?

No Palácio de Buckingham a louça é dela e ninguém tasca.

Pra finalizar, depois que tudo estiver no escorredor, limpe a pia. Retire o que sobrou de comida e jogue no lixo.

Você vai usar, no máximo, uma hora do seu dia com essa tarefa. Durante esse tempo você pensa na vida, na escalação da seleção, no futuro da Venezuela, no abadá do próximo carnaval, entre outras coisas interessantíssimas. Pra deixar mais agradável escute uma música de sua preferência, abra uma cerveja e faça sua tarefa com perfeição.

Nota: nenhum livro da Barsa foi consultado para descrever essas técnicas supracitadas. É por minha conta em risco.

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Organização financeira: modo (prático) de fazer http://4verbos.com.br/planejamento-financeiro-modo-pratico-de-fazer/ http://4verbos.com.br/planejamento-financeiro-modo-pratico-de-fazer/#comments Tue, 12 Feb 2013 20:00:41 +0000 Luciano Marino http://4verbos.com.br/?p=797 Tudo que vem fácil, vai fácil. Desmitifiquei o ditado popular quando encontrei uma nota de 50 reais perdida no meio da rua. Juntei a cédula e corri ao banco para depositar, tá lá na poupança rendendo até hoje. Só não entendo como alguém pode sair por aí perdendo 50 pratas. Será que foi um bolso furado ou mera displicência ao manusear a carteira? Fico intrigado.

Mas existe uma maneira bem prática para não perder seu dinheiro, ainda que de outras formas. Primeiro: sabendo onde ele está, ou seja, organizando-se. Segundo: conhecendo seus gastos. Isso mesmo, a maioria das pessoas só sabe quanto ganha, e não quanto gasta – e isso é a mesma coisa de ter os bolsos furados. Não interessa quanto dinheiro você ganha, o que interessa é quanto dinheiro você guarda. Mas, falemos melhor sobre o que mais interessa, a nipônica arte da organização.

Até certo momento na vida de um homem, ele pode se dar o privilégio de administrar mentalmente seus recursos. Depois de um tempo vêm as verdadeiras responsabilidades e é quase inevitável não recorrer à uma planilha financeira. Eu tenho a minha, passei a usá-la há uns seis anos e nunca mais me preocupei com o extrato bancário. Gostaria de compartilhar com vocês esse modelo que desenvolvi e que, modéstia à parte, funciona perfeitamente bem. Se você não vive perdido em meio à boletos e mensalidades, sugiro que pare a leitura neste parágrafo, este texto não é para você. Quero falar apenas com os desorganizados e mostrar como é simples por as contas em dia. É como um velho conselho de economia que diz: “Se você descobre que se enterrou num buraco… pare de cavar.”

Antes de continuar. Não são dicas sobre economia, onde investir, em que aplicar, e sim sobre organizar a casa. Se quiser saber como fazer o dinheiro trabalhar para você, recomendo que leia “Pai rico, pai pobre: o que os ricos ensinam a seus filhos sobre dinheiro”, de Robert Kiyosaki. Lá você entende que conhecimento é poder, e com o dinheiro vem mais poder, o que exige o conhecimento certo para mantê-lo e fazê-lo se multiplicar. De certa forma, é mais fácil controlar os gastos e economizar quando se tem tudo em ordem. Para que isso fique bem claro, vamos criar um personagem (sempre quis criar um).

O que acham de Abdel? Estudei com um Abdel na 8ª série e, desde então, nunca mais conheci um homônimo para aquele que sempre encabeçava a lista de chamada. Agora vamos dar um trabalho ao nosso personagem. Que tal colorista em uma editora de revistas em quadrinhos? Seu salário é de… deixe-me ver… 5 mil reais, ok? Abdel, tal qual meu colega de classe no ginásio, vive no vermelho, esquece de pagar as contas de energia e cartão de crédito e não consegue guardar nenhum tostão no final do mês. Abdel é um mero sobrevivente na selva capitalista em que habita. Vamos ajudá-lo a se organizar de uma vez por todas para que ele possa aproveitar todas as coisas boas que se pode fazer com a vida.

Tudo começa com um conceito bem simples. Existem receitas e despesas, o que entra e o que sai. Nada mais importa. Será a base da nossa planilha.

Eu poderia disponibilizar um aquivo para download do modelo pronto, como faz o www.meubolsoemdia.com.br, mas não funcionaria. Você precisa pegar o espírito da coisa, você tem que construir sua própria planilha, ajustá-la de acordo com as suas necessidades. Deve haver sinergia entre vocês. Por isso abra uma planilha do Excel – ou BrOffice – e na parte de cima coloque todas as suas despesas fixas (energia, condomínio, telefone, tevê por assinatura, empregada doméstica, etc, etc, etc). Na parte de baixo coloque todas as suas fontes de receita (salário, trabalhos extras, alugueis, vendas…), tenha uma boa coluna de ativos. Chamei as despesas de “fixas” porque não existem despesas variáveis, é um mito.

Com isso em mente, considere todas as “despesas variáveis”, ou seja, supermercado, alimentação, combustível, viagens e qualquer bugiganga que comprar, como uma única despesa: o cartão de crédito. Conheço gente que acha o cartão de crédito um vilão, preferem nem ter. Um erro. O cartão de crédito é uma das maiores invenções da nossa geração, com ele você concentra tudo em uma única conta e ainda acumula pontos em diversos programas de fidelidade. Uma maravilha completa e sem precedentes!

Ilustrando tudo isso, temos:

Agora considere 8 dicas de ouro, hábitos que farão toda a diferença:

1. Pagar com Visa é bem melhor
Considerando tudo isso, destine um teto para gastos com o cartão de crédito. Seja rigoroso com isso, ele será o termômetro para que você não gaste mais do que ganha. No caso de Abdel e suas 5 mil pratas mensais, considerei que ele pode gastar até 1.700 com seu Visa (ou MasterCard, que seja). Pague o flanelinha com cartão de crédito, se ele não aceitar, diga que está duro. Isso é sério. Pague tudo, o cafezinho, a gasolina, o mercado, a padaria, o CD da Sula Miranda, tudo. É uma despesa fixa de R$ 1.700,00.

2. A utilidade da via do cliente
Para isso funcionar é vital que você guarde a via de todas as compras que fizer com o cartão, destine um cantinho da carteira para elas. É um hábito bem simples, apesar de não parecer. Quando tiver acumulado uns 10 comprovantes de compra, abra a planilha e some os valores na fatura do mês seguinte.

3. Pague-se
Observe que todas as suas despesas somam 70% sobre o seu salário líquido (não vamos considerar os descontos em folha, como IRRF, INSS, contribuição sindical, plano de saúde, etc.) Existe uma regra básica de economia que prega que você deve guardar, pelo menos, 30 por cento do seu salário líquido. Com isso você prospera e não dependerá do Governo na velhice. - Mas eu não consigo guardar 30%, só 20. Nesse caso, eu lamento, mas você não pode ter ESPN HD. Corte até chegar à essa proporção de 30% e entenda que sua saúde financeira depende disso. Se não estiver convencido, pergunte à um aposentado do INSS quanto ele gasta com remédios por mês. Encare a sua poupança, ou seja, os 30%, como uma conta a ser paga. Você é seu próprio credor, por isso a poupança está no lado das despesas. Pague-se.

Sempre vai lhe restar apenas duas opções: cortar custos ou aumentar receita. Não existem milagres quando se lida com números.

4. Antecipe-se às contas e mostre quem é que manda
Alguns tributos como IPVA, IPTU e IPo-caralho-a-quatro oferecem grandes descontos se o pagamento for feito em parcela única. Veja qual é o valor à vista e divida em parcelas que antecedem o vencimento. Se o imposto custa 600 reais e vence em janeiro, comece a pagá-lo um ano antes, em suaves prestações. Isso vai contra a cultura do brasileiro, eu sei, mas no fim das contas é você sendo mais esperto que o sistema. Você teria essa disciplina?

5. Os malditos empréstimos
Se um amigo lhe pede algum emprestado, o que você faz? Pois é, não tem como dizer não, ainda mais quando ele sabe que você é uma pessoa financeiramente organizada. Só lhe resta emprestar, mas isso precisa constar em sua planilha. Tem essa despesa para quando o dinheiro sair e, se tudo correr bem, para quando o dinheiro entrar.

6. Espécie para gastos diversos
Não se pode viver sem dinheiro, uma hora ou outra você acaba entrando numa fria se não andar com nada na carteira. Sempre vai ter um estabelecimento com a caixa mal humorada dizendo: - não aceitamos cartão, senhor. Determine um valor X (ou seria “xis”) e ande com ele na carteira. Mas, lembre-se, é apenas para emergências – lembre-se da dica número 1. Nunca ultrapasse as metas pré-definidas. Na planilha de Abdel destinamos 400 reais em espécie.

7. Fui multado, e agora?
Ok, gastos variáveis existem. Você não é multado todo mês e não consegue pagar pelas infrações com o cartão de crédito. Vamos chamar isso de exceção. De qualquer forma, tenha isso previsto em sua planilha e dirija com atenção pelo amor de deus.

8. Psicologia das cores
Sua planilha deve ser colorida, ajuda a lembrá-lo caso esteja gastando demais. Para todos os custos defina uma meta para o ano inteiro e policie-se para cumpri-las, sua velhice depende disso. Se ultrapassou o valor estipulado para aquele mês, marque o valor de vermelho, se conseguiu cumprir, azul. Seja realista ao definir as metas, tire uma média do ano anterior, não se sabote. Esteja sempre alerta.

Isso tudo dito, veja como ficará a sua planilha depois de pronta. Eu simulei dois meses na nova vida de Abdel. Reparem na simetria dos números. Dizem por aí que matemática simples e bom senso são tudo o de que se necessita para alcançar sucesso financeiro. Esse Pitágoras sabia mesmo das coisas.

Como eu disse em algum lugar ali atrás, é preciso pegar o espírito da coisa para que tudo isso funcione. Crie agora mesmo a sua planilha lembrando-se do que é receita, despesa, custos fixos e psicologia das cores. Incremente como achar melhor. Crie fórmulas. Em pouquíssimo tempo a sua planilha se tornará um verdadeiro guia financeiro. Obviamente você vai levar um tempinho para se adaptar, mas garanto que vale muito a pena. Você vai conseguir se planejar com muito mais facilidade, não terá sustos com suas faturas e, consequentemente, terá todo o dinheiro que precisar para os remédios da velhice. Esse será o seu primeiro passo para uma disciplina econômica, não tem como enriquecer sem uma alfabetização financeira. Liberte-se do medo, ceticismo, preguiça, maus hábitos e orgulho.

É a falta de autodisciplina que se constitui no fator número um a separar ricos, pobres e classe média. Você e só você tem o poder de determinar o destino de cada nota de real que chega às suas mãos. Gaste-a totalmente, você escolheu ser pobre. Gaste-a com passivos, você fará parte da classe média. Ou, invista em você, aprenda a adquirir ativos e você estará escolhendo a riqueza como seu objetivo e seu futuro. Faça!

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A arte de chegar atrasado http://4verbos.com.br/a-arte-de-chegar-atrasado/ http://4verbos.com.br/a-arte-de-chegar-atrasado/#comments Wed, 06 Feb 2013 23:57:21 +0000 Calixto Neto http://4verbos.com.br/?p=777 Aviso importante: este texto contém material possivelmente danoso ao seu cargo atual, podendo levar à demissão. As técnicas aqui apresentadas devem ser utilizadas com moderação. Ou não!

Muito já se fala sobre técnicas, maneiras e mandingas para você não chegar atrasado ao trabalho e ficar bem na fita com seu chefe. Ok, ser pontual tem suas vantagens e não deixa de ser uma regra básica de etiqueta. Entretanto algumas pessoas não se entendem bem com o relógio e acreditam que não obedecer aos três ponteiros malditos é uma forma de transgressão contra a estrutura capitalista burguesa. Uma desculpa e tanto para ser um atrasado, diga-se de passagem. E, nesse grupo, eu me incluo. Não pela transgressão, mas por estilo de vida mesmo.

Nunca gostei de ser o primeiro a chegar na festa, no ponto de encontro, da fila, enfim. Talvez isso se deva ao fato de eu nunca ser o primeiro na escolha do time de futebol, mas isso é papo de psicólogo – deixa pra lá. O fato é que – por livre arbítrio – escolhi não ser pontual. E ao longo dos anos levando porradas, repreensões, e quase demissões, aprendi algumas coisas que serão muito úteis se você quiser enveredar por esse lado do relógio.

Continue, isso muito me interessa.

Uma das primeiras coisas que se aprende nesse mundo é que você nunca pode assumir que chega atrasado por estilo. Sempre (sempre!) se mostre preocupado por chegar atrasado, mantenha uma pose introspectiva e, até certo ponto, preocupada. Esta será a sua defesa contra possíveis piadinhas com fundo de puxão de orelhas como: “Chegou cedo pro almoço, hein?”

A próxima regra que você deve seguir é: você não é contra o horário, você faz o seu horário! Existem Ns (enes?!) motivos para você aproveitar a sua cama por mais alguns minutinhos. Você chega mais disposto, não fica mal humorado, não se estressa com o trânsito e por aí vai. Reforce os benefícios para aplacar os malefícios. Todo mundo vai tentar te rotular e com os argumentos certos você consegue se safar de alguns, nas não todos, infelizmente.

Outra coisa, não seja irresponsável. Um atraso não significa improdutividade, pelo contrário, você tem que trampar o dobro e mostrar resultados acima da média. Tenha o foco de um workaholic numa personalidade de Bon Vivant e faça o seu chefe se orgulhar de ter você na equipe, mesmo chegando atrasado. Isso implica – às vezes – em ficar além do horário em busca da tal perfeição.

Lembre-se: nunca, jamais, em hipótese alguma, desobedeça a regra dos 30 minutos. Com tolerância de 10. Essa é a regra de ouro que rege todo o processo.

Quando eu falo de chegar atrasado estou falando em aproveitar os poucos minutos a mais pela manhã. Você se permite ficar na cama mais tranquilo e não ter que acordar preocupado durante a madrugada. Isso não quer dizer que você vai chegar no trabalho às 10h da matina. Por isso, a faixa de atraso que você deve obedecer como um mantra é de 30 à 40 minutos, no máximo. É nesse período que as pessoas estão ocupadas guardando seus pertences, batendo papo na copa, tomando café, lavando suas xícaras e conferindo as redes sociais. Ninguém vai notar sua falta e você também não vai fazer falta. Qualquer chegada após 40 minutos será digna de tapete vermelho e flashes.

Lá vem ele.

Entendo se você disser que esperava argumentos mais significantes para justificar um atraso com maestria, sinto em não poder ajudá-lo tanto assim. Mas espero que encontre algo nesse texto que o ajude a tornar uma manhã de segunda-feira algo menos penoso.

Quanto a chegar atrasado em solenidades como festas de casamento, velórios e o primeiro encontro, eu posso contar depois, mas acho que vai demorar um pouco…

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